Hoje, dia 5 de maio assinala-se pela 3ª vez o Dia Mundial da Língua Portuguesa, também chamado de Dia da Lusofonia.
Esta data foi oficialmente instituída pela UNESCO em 2019, tornando assim a língua portuguesa como o primeiro idioma do Mundo com uma data oficial reconhecida pela ONU. A comemoração deste dia tem o principal propósito de promover o sentido de comunidade mas também de diversidade de todos os falantes da língua portuguesa, propiciando a discussão das questões idiomáticas e culturais da lusofonia.
É estimado que, atualmente a língua portuguesa seja falada por mais de 265 milhões de pessoas, posicionando-a como a 5ª língua mais falada do mundo. Para além disso, a língua portuguesa é reconhecida como a língua mais utilizada no hemisfério sul, muito à custa dos falantes do Brasil. É a língua oficial de nove países – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Portugal. Podemos assim dizer que uma das principais riquezas da língua portuguesa é a sua diversidade, estando presente há muito nos vários continentes do mundo.
A língua portuguesa continua a evoluir e a expandir-se, continuando a chegar a diversas latitudes. Existe um interesse cada vez maior das pessoas aprenderem a língua portuguesa, com especial destaque no continente asiático. As Nações Unidas estimam quem no final deste século, a língua portuguesa venha a ser falada por mais de 500 milhões de pessoas. Assim, em pleno século XXI, a língua portuguesa já não pode ser vista somente como a língua da saudade e do fado triste e melancólico, devendo também ser encarada como a língua da ciência, da inovação e do progresso, da inclusão e da alegria de saber viver bem.
Em 1536, Fernão de Oliveira escreveu a primeira gramática da língua portuguesa. Esta importante obra teve como principal objetivo a estruturação e organização de um sistema linguístico próprio, que se pudesse afirmar e perpetuar no tempo, tendo sido uma obra vista também como uma forma de empoderamento da autonomia nacional de Portugal. Nessa obra, Fernão de Oliveira chama a atenção para que “Não desconfiemos da nossa língua, porque os homens fazem a língua e não a língua os homens”, realçando o alto valor civilizacional da língua (portuguesa). Assim, a melhor forma que temos de poder continuar a honrar e dignificar a nossa língua é falando-a e escrevendo-a bem, combinando de forma criteriosa e criativa as diferentes componentes que compõem a língua: do léxico à ortografia, da sintaxe à pragmática, não descurando os vários recursos estilísticos que temos ao dispor e que marcam de forma tão especial a língua portuguesa.
Para terminar, é tempo de realçar aquela que foi um das mais importantes poetisas portuguesas do século XX, Sophia de Mello Breyner Andersen, que, na década de 60 descobriu a então vila de Lagos, tendo-se apaixonado pela beleza crua desta terram tendo permitido que Lagos ficasse para sempre incrustada na beleza dos seus poemas.
Dias antes do 25 de abril de 1974, escreveu o seguinte poema, que vos deixo em jeito de despedida:
“Virada para o mar como a outra Lagos
Muitas vezes penso em Leopoldo Sedar Senghor:
A precisa limpidez de Lagos onde a limpeza
É uma arte poética e uma forma de honestidade
Acorda em mim a nostalgia de um projecto
Racional limpo e poético
Os ditadores — é sabido — não olham para os mapas
Suas excursões desmesuradas fundam-se em confusões
O seu ditado vai deixando jovens corpos mortos pelos caminhos
Jovens corpos mortos ao longo das extensões
Na precisa claridade de Lagos é-me mais difícil
Aceitar o confuso o disforme a ocultação
Na nitidez de Lagos onde o visível
Tem o recorte simples e claro de um projecto
O meu amor da geometria e do concreto
Rejeita o balofo oco da degradação
Na luz de Lagos matinal e aberta
Na praça quadrada tão concisa e grega
Na brancura da cal tão veemente e directa
O meu país se invoca e se projecta
Lagos, 20 de Abril de 1974”
In O nome das coisas (1977) de Sophia de Mello Breynner
Escrito por:
Ana Catarina Baptista
Professora na Universidade do Algarve, Doutorada em Voz, Linguagem e Comunicação pela Universidade de Lisboa. Apaixonada pelo potencial transformador da infância e da educação. Acredita que é preciso dar a vez e a voz às crianças, colocando-as verdadeiramente no centro das políticas, porque…. se mudarmos o início da história, podemos mudar a história toda!